Tó Quim: uma vida na “brincadeira” da escalada
Técnico, professor, formador, árbitro, atleta...com tantas faces numa já longa carreira, é difícil rotular António Joaquim Ramos, carinhosamente conhecido no mundo da escalada, simplesmente, como Tó Quim. Um homem com uma visão ambiciosa para a escalada da FCMP. Mas já lá vamos...
Representante da FCMP na youth comission da UIAA – Federação Internacional e Montanhismo mas, acima de tudo, grande esteio e motor da escalada nacional enquanto coordenador da modalidade no Colégio Marista de Carcavelos, Tó Quim orgulha-se do seu papel enquanto formador de talentos. Nomes como os de Mariana Abreu, Bernardo e João Castro ou, mais recentemente, Lourenço Preto, Teresa Coimbra ou João Matos, passaram pelas mãos de um um homem que descreve uma vida ligada à escalada como uma vida passada “na brincadeira” e que acabou por fintar o futebol, a primeira paixão.
“Tudo começou em 1987. Na altura, era jogador de futebol no Oeiras e não estava minimamente ligado à escalada”, recorda. Foi o amigo António Cruz e a ligação à Associação de Escoteiros de Portugal que o colocou no caminho que hoje trilha com um entusiasmo inigualável. “Apaixonei-me pela escalada e comecei a ir para todo o lado para escalar: França, Espanha...no segundo ano de faculdade fui até aos Estados Unidos e passei por Yosemite, o El Capitan, Joshua Tree. O meu primeiro contacto com a escalada foi aos 17 anos, hoje tenho 48, pelo que posso dizer que passei uma vida na brincadeira!...”, recorda sem nostalgia.
Mesmo na Faculdade de Motricidade Humana, onde se licenciou em Desporto, a vocação de divulgador e formador já se notava: “Na faculdade não existia especialização em escalada, pelo que segui futebol e fui trabalhar para o Colégio dos Maristas. Cheguei a trabalhar com Rui Águas e houve até a hipótese de seguir essa via de forma mais séria. Mas o bichinho da escalada nunca morreu; fui influenciando mais gente e, entretanto, ia juntando todo o dinheiro que podia para ir escalar.”
Nos Maristas, fez de tudo um pouco e, um dia, enquanto coordenador do Desporto no colégio, perguntaram-lhe o que “faria falta” em termos de estruturas desportivas nos Maristas. “O arquiteto, ele próprio ex-professor, perguntou-me se faltava alguma coisa e eu disse-lhe que sim, que faltava uma parede de escalada. Desenhei-a eu próprio e assim se construiu a parede”, conta.
A vocação de ensinar e a necessidade de mais ferramentas e a “legitimidade” formal para a mesma perante o Colégio levou-o a contactar a FCMP. Fez o nível 1 e assim iniciou uma ligação que dura até hoje.
“Ensinar estava no meu ADN”, assume. “Tive a honra de iniciar o Francisco Ataíde, um dos melhores portugueses. Iniciei-o quando ele tinha 13 anos, era eu pouco mais velho que ele. E peguei o ‘bichinho’ a tantos outros. Isto numa altura em que a escalada não era vista como uma actividade competitiva; havia encontros organizados por uma empresa chamada “9 A”. Nessa altura, Zé Luís Carvalho, Nuno Pardal, António Vale, Pedro “Flau” Martinho eram as referências.”
Entretanto, de há cerca de 10 anos para cá, agarrou o testemunho de José Pedro Broto no Desporto Escolar (DE), organizando, coadjuvado pelos professores do DE um calendário constituído por 6 provas competitivas e um encontro de partolha de conhecimentos na rocha. Porque a escalada “indoor” é, para si, um investimento importante, ainda mais numa altura em que se fala dos Jogos Olímpicos como uma realidade a dois anos de distância.
Objetivo Tóquio 2020
E no objetivo de Tóquio 2020 que Tó Quim pensa, caracterizando o momento atual como “ideal”: “Estamos a viver o momento ideal de mudança na escalada. Tem de existir uma união de forças e uma conjugação de situações para que possa existir uma representação portuguesa com mínimos para os Jogos Olímpicos.”
E é assim, sem medos nem meias-palavras, como lhe é característico, que Tó Quim expõe a sua visão relativamente à escalada olímpica e ao papel da FCMP e do seu principal atleta, André Neres: “A Federação está a fazer um esforço incrível e tem de o incrementar, criando mais e melhores momentos de treino, servida de uma equipa eclética de técnicos. E temos qualidade humana para tal. O André Neres pode lá chegar, mas tem de ter a ajuda de uma equipa multidisciplinar e de oportunidades de competição lá fora, com atletas do seu nível. Ele e mais dois atletas têm de ir lá fora e serem submetidos a esse estímulo.”
Tó Quim socorre-se do exemplo de Moniz Pereira, o homem que levou o atletismo português às medalhas olímpicas do passado e deixa um recado para dentro e para o Futuro: “O professor dizia que um português chegaria às medalhas quando tivesse as mesmas condições de treino dos outros. E eu digo o mesmo em relação ao André! A FCMP tem todas as condições para virar uma página dourada da modalidade. Este é o momento.”
Fica o desafio e a certeza que a FCMP tudo fará para o bem da escalada e conta com Tó Quim como um dos homens fortes nesta luta.