Alice Lopes, uma força da Natureza
Alice Lopes, a campeã nacional de Skymarathon fala como corre: sem hesitações nem rodeios. Insiste que a tratemos por “tu” de imediato e pede para “embelezar” o que disser porque fala assim mesmo. Assim, como corre. Pois, sem hesitações nem rodeios, é isso.
Ligada desde sempre ao desporto, fosse na natação, ténis ou no ginásio, começou a correr no Porto, na Marginal, que percorria para cima e para baixo, de madrugada, quando o sol ainda mal se via. Começou a fazer meias-maratonas e maratonas de estrada, mas foi quando se mudou para Vale de Cambra, onde abriu o seu ginásio, que descobriu a “sua” Serra da Freita e com ela os trails e o Skyrunning.
“Fazia uns treinos com os meus alunos do ginásio, para eles treinarem. Até que um dia, dois meses depois de ser mãe, há cerca de 9 anos, fui fazer um trail para experimentar. Correu muito bem, quer em termos de sensações como de resultado. Fiquei em segundo porque quebrei nos últimos 5 ou 6 quilómetros... inexperiência competitiva. Mas fiquei curiosa”, recorda Alice Lopes, agora com 43 anos.
Uma curiosidade que a fez continuar a correr na serra e a acumular provas. Quanto mais duras melhor. E foi essa apetência pela dificuldade, pelo desafio, que a levou a conhecer o Skyrunning e, em particular, a Skymarathon. “A agressividade, a brutalidade do Skyrunning é a minha cara. Há muita gente que corre muito mais que eu, mas poucos que gostem dessa exigência como eu. Procuro sempre as provas mais duras!”, atira com um sorriso que se adivinha pelo telefone.
Mas lá em casa a paixão de Alice pelo sofrimento não é tão apreciada, diz: “A minha família não gosta que eu corra porque detesta ver-me sofrer, mas depois tenho as minhas amigas que vão comigo para as provas e fazem a festa.”
E o título nacional? Esse, confessa,“simplesmente aconteceu” : “É sempre giro ser campeã, mas este ano não era um objetivo, simplesmente aconteceu.”
Mas isso não significa que Alice não seja competitiva. Antes pelo contrário. Mas como em quase tudo com a campeã nacional, é “à sua maneira”: “Sou muito competitiva, mas mais comigo. A minha relação com a corrida é muito própria, é o meu momento, uma espécie de meditação em que estou sozinha comigo mesma. Adoro meter os fones na cabeça e ir para o monte correr.”
E tudo o resto é uma alegria e uma força que leva tudo à frente. E vai contando, quase como se quisesse partilhar o último exemplo: “Sabes o que me aconteceu hoje? Caí e magoei-me no joelho. Tive de levar 12 pontos, mas estive horas sem me aperceber como estava. Fiz o meu dia de trabalho e só quando cheguei a casa e fui despir as calças é que percebi a gravidade da coisa. É que como o corte foi tão profundo nem sangrou. A chatice é que queria mesmo ir correr amanhã ao Pisão. E ainda vou tentar...”
É assim Alice Lopes, a campeã nacional de Skymarathon 2019. Não sei se já dissemos: sem hesitações nem rodeios.